22.2.17
RASCUNHO: LIVRO QUE ESTOU ESCREVENDO "ESTIRÃO DO RIO"
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Apresentação
Quando comecei a escrever esse livro foi uma experiência muito gratificante, descrever um cotidiano de extrema beleza interiorana. De um olhar poético e sensível as causas sociais, misturando sentimentos e descrevendo nas palavras que se transformavam em um livro político consciente e baseado em histórias reais, tendo como objetivo fazer o leitor se questionar sobre sua sociedade que pertence, se esta faz parte de um sistema opressor e desigual. Tento passar um cotidiano de transformações sociais e forçar através das palavras ocultas e políticas que não se consegue nada sem lutar por melhorias e condições sociais para a comunidade em que vivemos. Espero que o leitor viaje intensamente nos poemas e perceba que proteger o meio ambiente é um dever de todos nos. Tendo infiltrado em cada leitor a pergunta: em que lado do rio você está, do lado dos opressores ou do lado dos oprimidos?
Gilvandro dos Santos Torres
Quando as matas se fecham, surge no lugar uma voz que tenta gritar, um povo que merece viver, anos de tradição levados pela obsessão, aqueles que trouxeram a desenvolvimento, comprado pelo escambo tradicional; Palavras enganadas ao povo um grito ecoou nas florestas deste imenso rio. Cala-se a voz, é imposto um muro de concreto. É visto de longe um belo monte de mentiras, desenvolvimento à custa de exploração.
Quando imaginamos que os patrões faziam seu aviamento à custa de um sistema econômico opressor e injusto...
Os trabalhadores rurais passavam o dia em seus roçados e vendiam o fruto do seu trabalho a troco de vale. Os comerciantes que se diziam donos de grandes lotes de terra, colocavam seu preço nas mercadorias e aumentavam o quanto podiam, nunca os trabalhadores pagavam sua dívida. Primeiro foi as sementes de ucuuba, depois palmito e por ultimo as toras de madeira. Passados os anos esses trabalhadores unidos se rebelaram e se organizaram. Não teve sangue na luta mais teve luta no dia a dia.
Os patrões se acabaram, as grandes empresas madeireiras faliram, as casas de comercio e seu sistema hoje está abandonada pelo tempo. Esses nobres trabalhadores tomaram dos pelegos o sindicato.
Fizeram representantes legítimos da classe trabalhadora.
Com os anos fizeram representantes no legislativo, combatentes a serviço da luta. Lutaram e através de um trabalhador rural chegou ao comando do poder executivo municipal.
A luta se concretizou e o povo venceu e a terra hoje é te todos. Um grupo de trabalhadores rurais uniram-se e se organizaram era uma longa caminhada também estava decidida a luta sem foice e nem martelo mais frente a frente com as imposições dos patrões.
Um tempo onde os patrões dominavam a vida econômica e política da região de Gurupá, onde o sistema econômico era o aviamento na base do escambo, e o sistema político era o coronelismo, onde o posseiro era obrigado a votar no candidato do dono da terra onde o posseiro trabalhava.
A família trabalhando na roça, o pai cansado de uma noite mariscando tapando igarapé e despescando com timbó, a mãe fazendo comida, tratando peixe e amolecendo os caroços de açaí para fazer o vinho tão esperado e as crianças brincando a beira do rio com um olhar esperançoso ao ver o barulho do rio em que vem um barco de pequeno calado, encosta no trapiche da casa de seu José Carvalho.
Era um dos empregados do latifundiário e comerciante local que estava convidando para trabalhar, ou seja intimando já que seu Jose Carvalho morava em suas terras.
O pai da família foi convidado para roçar na casa do patrão dono de uma porção improdutiva de terras de várzea ao ouvir o convite.
Ficou segundo pensando em silencio e acocado decidi ir atrás, embarca na canoa se despedindo da família, com um terçado rabo de galo e uma pedra para amolar coloca na canoa, arruma no porão da canoa uma panela contendo seu almoço, tira com uma cuia a água da canoa e embarcando com o remo de pracuuba segue seu destino.
Com um porronca acesso, remando há algum tempo, as paisagens do rio são lindas, o verde das palmeiras do açaizeiro faz a diferença, o barulho da mata batiza o momento único entre o ser humano e a natureza.
Rio é longo cheio de estirões e correnteza leva com a força nos braços do pai de família ao remar com seu remo feito de pracuuba.
Chega ao porto da casa grande, o patrão já está no comercio atendendo os fregueses, aviando os posseiros com preços impagáveis.
O pai de família amarra sua canoa, no trapiche, subindo com seu material de trabalho, olha a casa do patrão Lima era feita de madeira de lei e telhas de barro, pintada a óleo, caminho era novo e velho ao mesmo tempo, entre as paredes notas antigas e muita mercadoria, o lugar era calmo e sereno mais escondia um sistema duvidoso economicamente onde os preços eram altos e quase sempre deixavam seus fregueses ainda mais endividados e forçados a entregar a produção pelo um preço menor.
Seu José Carvalho passa pelo patrão com um olhar com desconfiança, um olhar de dono da situação, o comercio lotado de mercadorias, onde os posseiros se atolavam em dividas.
Fala cordialmente com os amigos que já estão no local para roçar a área em torno da casa do patrão, o pai de família pega seu terçado rabo de galo e sua pedra para amolar, prepara o instrumento e começa a trabalhar.
Era sol de meio dia, os rostos dos trabalhadores suando, um olhar sem esperança mais ativo ao horizonte, o barulho do mato grande não dá tempo de se esquivar era a serpente que encontraria seu calcanhar, a dor era insuportável era o sangue que sai de sua perna e se misturava na terra, era os companheiros que acudiram, mais não do tempo.
A temida jararaca venenosa, não deu tempo de chegar a cidade atravessaram o rio sob tormenta e dor, seu José gritava, mais em seu pensamento vinha a dor maior sua família, pois sabia que ia ter que deixar em poucas horas.
Os olhos do pai de família se fecham a dor do luto de seus familiares e o patrão intacto não reconhece e apenas fecha a porta de sua casa, algumas horas depois estava no comercio aviando seus fregueses, era um dia de luto a morte daquele trabalhador fez seus filhos lutarem por dias melhores.
OS ANOS SE PASSAM...
A casa de madeira coberta de palha, ponte de tala de açaizeiro, a terra emprestada onde roçava, tirava madeira e pescava no rio, o cenário não mudaria era a continuação do opressor contra o oprimido, uma época de medo e sem consciência política, onde o povo vivia na escuridão intelectual dos seus direitos, onde o grito era calado com a força dos patrões.
Era o dia de abastecer a dispensa, era o dia de ir à casa do patrão, preparam-se a família para remar horas pelo estirão de rio, as crianças com um olhar de temer afinal era o patrão.
A chefa da família viúva coloca o remo na canoa, era 13hs o sol estava beirando os 32 graus, o rio Moju estava agitado se preparando para um temporal.
Remando há quase duas horas chega-se a casa do patrão, fazia muito tempo que seu esposo tinha falecido naquele local, as crianças desembarcam com certo medo, pois as dívidas da família estavam atrasadas, as crianças ficaram atrás da mãe enquanto ela esperava o patrão jogar baralho no pátio de sua residência, com os amigos.
Depois de horas esperando, ele resolve atende-la com certa arrogância e indiferença social, gesticulando e com um tom ameaçador, ao mesmo tempo em que atende a viúva despachando sua nota de mercadorias pelo meio.
As crianças com medo do tom do patrão estavam assustadas, entre elas um menino de quase oito anos, com uma roupa bem usada estava descalço e de cabelos grande, um olhar no horizonte observa com temor toda aquela situação.
A família da viúva embarca na canoa com as mercadorias, e retornam para sua casa, afinal levavam a farinha, querosene e demais mantimentos que davam para se manter até pagar a dívida no sistema de escambo, o olhar da mãe ficou marcado na vida deste menino... Chamado Zé Nogueira.
Anos se passam esta família passou muita fome, tiveram que aprender desde cedo a caçar, pescar e tirar açaí, tirar madeira em troncos com machado e fazer roça para sobreviver.
Os anos se passam este menino chamado Zé Nogueira, foi estudar fora do município como Seminarista na cidade de Santarém bem distante da família e passa a viver a efervescência do movimento social da época, a luta pela terra e conscientização de seus direitos e deveres baseado na constituição universal dos direitos humanos, retorna a sua terra natal e passa a atuar diretamente na fundação partidária e na conquista dos trabalhadores rurais.
Um tempo de lutas sociais em Gurupá e estuda o estatuto da terra. As conquistas são feitas a parti do momento em que o povo conhece seus direitos, a luta pela terra baseada no estatuto da terra provocou a tomada do sindicato dos pelegos.
O povo estava se organizando em comunidades eclesiais de base, preparando e formando lideranças, a união de pensamentos contra a exploração do trabalhador foi à ideia de fundar um partido político para tomar o poder dos patrões, seria o ponto de partida para revolucionar a época.
Reuniões intensas foram debatidas, candidaturas forma definidas entre encontros em 1982 lança para candidato Alfredo da Costa, sendo derrotados pela elite econômica da época, mesmo assim não desistiram da luta e elegeram dois companheiros para o legislativo municipais legítimos representantes do rio mararu e rio Moju. Em 1986 a grande força sindical com a tomada do sindicato dos trabalhadores rurais, em 1988 foi às urnas para o pleito municipal elegendo a bancada histórica do partido dos trabalhadores. Em 1992 o candidato da situação era da família Lima, tradicionais latifundiários da região, tendo como opositor e candidato de origem rural Moacir Alho pelo PT, com a conscientização feita com trabalho de base elegeu um trabalhador rural para Chefe do Executivo Municipal de Gurupá.
Ao entrar na Sede do Poder Municipal, aquele menino Zé tinha crescido e fazia parte do governo municipal, sentou-se na cadeira da Chefia de Gabinete do Prefeito e ali usaria sua razão e emoção para fazer de uma reflexão uma lição de vida.
Aquele mesmo patrão que um dia humilhou sua família retornaria ao cenário atual da vida daquele menino que se tornou Chefe de Gabinete do Prefeito eleito pelo povo Moacir Alho e teria que atende-lo.
Olhou de sua sala e toda aquela situação de opressão retornaria em seu pensamento, ficou alguns minutos lembrando tudo que presenciou essa época onde a vida dos seringueiros era sofrida e saiam para trabalhar entre as 04 horas da manhã ou 05 horas da manhã os seringueiros saiam para coletar o látex, obedeciam ao sistema injusto do aviamento de mercadorias a credito, com preços altos.
O patrão cedia ao seringueiro mantimentos e material de trabalho como botas, terçado, querosene e tabaco, e o seringueiro pagaria a dívida com a produção de borracha, o preço das mercadorias era injusto e nunca o seringueiro conseguia pagar sua dívida.
Depois de retirar o látex da árvore peneira o liquido tirando as impurezas e adicionando o agente vulcanizador é levado ao fogo por uma hora.
O látex era adicionado ainda na mata com água de cinza, um conservante natural que impede a coagulação.
Os posseiros burlavam e vendiam para os regatões que passavam pelo rio Moju, o comercio clandestino entre os posseiros e donos das embarcações ficou altamente perigoso e a força regional passou a multar os donos de regatões, na época João Lima era o maior comerciante do rio Moju.
Foi uma época onde os posseiros vivam numa situação da escravidão dos seringueiros que trabalhavam no seringal do comerciante João Lima que se dizia dono de uma extensa faixa de terra ficou claro a desigualdade e crueldade com o povo de menor renda.
Veio em seus pensamentos aquela luta diária para tirar a colheita do açaí é praticada por muitas famílias, sendo destinado ao consumo familiar. O trabalho era feito frequentemente com seus irmãos, uma para subir nos açaizeiros e colher os cachos e outra para debulhar os frutos, colocando o açaí em paneiros.
Uma lágrima chegou a cair em seus olhos lagrimados, olhou para cima e mandou chamar o velho João Lima em vez de usar o sentimento de raiva que sentia, usou a cordialidade e atendeu aquele que um dia foi seu opressor.
agradecimento ao senhor MANOEL JOSÉ NOGUEIRA DE CARVALHO, ex seminarista e ativista social, participou ativamente nestes últimos 20 anos da vida pública no munícipio de Gurupá, exerceu os cargos de Chefe de Gabinete do Prefeito (1994), na gestão do Sr.Moacir Alho e na gestão do Sr.Raimundo Nogueira entre os anos de (2001-2008), e na terceira gestão Raimundo Nogueira exerceu o cargo de Chefe do Controle Interno (2013-2016).
Cedeu gentilmente sua história pessoal para este livro de crônicas reais de um povo, onde após uma reunião de governo me contou parte de sua vida e a construção de um ideal de luta.
Os leitores estão agradecidos por ceder não só para este livro sua história mais para as novas gerações que lutaram a cada dia por dias melhores e se inspiraram nessa lição de vida.
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