13.2.16

ESTIRÃO DO RIO

Crônica da vida “Um tempo onde os patrões dominavam a vida econômica e politica da região de Gurupá, onde o sistema econômico era o aviamento na base do escambo, e o sistema politico era o coronelismo, onde o posseiro era obrigado a votar no candidato do dono da terra onde o posseiro trabalhava.” A família trabalhando na roça, o pai cansado, a mãe fazendo comida e as crianças brincando a beira do rio ( cenário). O pai da família foi convidado para roçar na casa do patrão dono das terras e do comercio, embarca na canoa se despedindo da família, com um terçado rabo de galo e uma pedra para amolar coloca na canoa, arruma no porão da canoa uma panela contendo seu almoço, tira com uma cuia a água da canoa e embarcando com o remo de pracuuba segue seu destino. Com um porronca acesso, remando a algum tempo, as paisagens do rio Moju são lindas, o verde das palmeiras do açaizeiro fazem a diferença, o barulho da mata batiza o momento único entre o ser humano e a natureza. Rio é longo cheio de estirões e correnteza leva com a força nos braços do pai de família ao remar com seu remo feito de pracuuba. Chega ao porto da casa grande, o patrão já está no comercio atendendo os fregueses, aviando os posseiros com preços impagáveis. O pai de família amarra sua canoa, no trapiche, subindo com seu material de trabalho, olha a casa do patrão Lima era feita de madeira de lei e telhas de barro, pintada a óleo. Passa pelo patrão que olhar com desconfiança, um olhar de dono da situação, o comercio lotado de mercadorias, onde os posseiros se atolavam em dividas. Fala cordialmente com os amigos que já estão no local para roçar a área em torno da casa do patrão, o pai de família pega seu terçado rabo de galo e sua pedra para amolar, prepara o instrumento e começa a trabalhar. Era sol de meio dia, os rostos dos trabalhadores suando, um olhar sem esperança mais ativo ao horizonte, o barulho do mato grande não dá tempo de se esquivar era a serpente que encontraria seu calcanhar, a dor era insuportável era o sangue que sai de sua perna e se misturava na terra, era os companheiros que acudiram, mais não da tempo..... Os olhos do pai de família se fecham a dor do luto de seus familiares e o patrão intacto não reconhece. OS ANOS SE PASSAM......... “ A casa de madeira coberta de palha, ponte de tala de açaizeiro, a terra emprestada onde roçava, tirava madeira e pescava no rio, o cenário não mudaria era a continuação do opressor contra o oprimido, uma época de medo e sem consciência politica, onde o povo vivia na escuridão intelectual dos seus direitos, onde o grito era calado com a força dos patrões.” Era o dia de abastecer a dispensa, era o dia de ir à casa do patrão, preparam-se a família para remar horas pelo estirão de rio, as crianças com um olhar de temer afinal era o patrão.. A chefe da família viúva coloca o remo na canoa, era 13hs o sol estavam beirando os 32 graus, o rio Moju estava agitado se preparando para um temporal. Remando há quase duas horas chega-se a casa do patrão, fazia muito tempo que seu esposo tinha falecido naquele local, as crianças desembarcam com certo medo, pois as dividas da família estavam atrasadas, as crianças ficaram atrás da mãe enquanto ela esperava o patrão jogar baralho no pátio de sua residência, com os amigos. Depois de horas esperando, ele resolve atende-la com certa arrogância e indiferença social, gesticulando e com um tom ameaçador, ao mesmo tempo em que atende a viúva despachando sua nota de mercadorias pelo meio. As crianças com medo do tom do patrão estavam assustadas, entre elas um menino de quase oito anos, com uma roupa bem usada estava descalço e de cabelos grande, um olhar no horizonte observa com temor toda aquela situação. A família da viúva embarca na canoa com as mercadorias, e retornam para sua casa, afinal levavam a farinha, querosene e demais mantimentos que davam para se manter até pagar a divida no sistema de escambo, o olhar da mãe ficou marcado na vida deste menino... chamado Zé. “os anos se passam este menino chamado Zé, estuda e passa a viver a efervescência do movimento social da época, a luta pela terra e conscientização de seus direitos e deveres baseado na constituição universal dos direitos humanos, retorna a sua terra natal e passa a atuar diretamente na fundação partidária e nas conquista dos trabalhadores rurais.” Um tempo de lutas sociais em Gurupá. As conquistas são feitas a parti do momento em que o povo conhece seus direitos, a luta pela terra baseada no estatuto da terra provocou a tomada do sindicato dos pelegos. O povo estava se organizando em comunidades eclesiais de base, preparando e formando lideranças, a união de pensamentos contra a exploração do trabalhador foi à ideia de fundar um partido politico para tomar o poder dos patrões, seria o ponto de partida para revolucionar a época. Reuniões intensas foram debatidas, candidaturas forma definidas entre encontros em 1982 com Alfredo da Costa, sendo derrotados pela elite econômica da época, mesmo assim não desistiram da luta e elegeram dois companheiros para o legislativo municipais sendo os únicos do PT no estado do Pará seria Raimundo Nogueira e Benedito Gomes da Gama. Em 1986 a grande força sindical com a tomada do sindicato dos trabalhadores rurais, em 1988 foi às urnas para o pleito municipal elegendo a bancada histórica do PT. Em 1992 o candidato da situação era da família Lima, tradicional latifundiários da região, tendo como opositor e candidato de origem rural Moacir Alho pelo PT, com a conscientização feita com trabalho de base o PT elegeu um trabalhador rural para Chefe do Executivo Municipal de Gurupá. LEMBRANÇAS DO ESTIRÃO DO RIO “Ao entrar na Sede do Poder Municipal, aquele menino Zé tinha crescido e fazia parte do governo municipal, sentou-se na cadeira da Chefia de Gabinete do prefeito e ali usaria sua razão e emoção para fazer de uma reflexão uma lição de vida.” Aquele mesmo patrão que um dia humilhou sua família retornaria ao cenário atual da vida daquele menino que se tornou Chefe de Gabinete teria que atende-lo. Olhou de sua sala e toda aquela situação de opressão retornaria em seu pensamento, em vez de usar o sentimento de raiva, usou a cordialidade e atendeu aquele que um dia foi seu opressor. Gilvandro Torres

A vida só é interessante com luta, sem luta não há vitoria

8.2.16

FONTES CONSULTADAS NESSES CINCO ANOS DE PESQUISA SOBRE GURUPÁ.

FONTES CONSULTADAS: 1- Charles Wagley, Amazon Town, a study of man in the tropics/1953 2- Eduardo Galvão, The Religion of an amazon community: a study in culture change/ 1952- Universidad Columbia. 3- Arlene Mari Kelly, Family, Church and Crown: a social and demographic history of the lower Xingu river valley and the municipality of Gurupá, 1623/1889- 1984/ University Of Florida. 4- Richard Brown Pace, Economic and political change in the Amazonian community of ITA, Brazil/ 1987- University of Florida. 5- Paulo Henrique Borges de Oliveira, Ribeirinhos e Roceiros, Gêneses, subordinação e resistência camponesa em Gurupá/ 1991- Universidade de São Paulo. 6- Jean Marie Royer, Logiques sociales et extractivisme. Etude anthropologique d’une collectivité de La forêt amazonienne, etat Du Pará, Brésil/ 2003- Université Paris III- Sorbonne Nouvelle, Institut des Hautes Etudes d’amérique Latine. 7- Girolamo Domenico Treccani, Regularizar a terra: um desafio para as populações tradicionais de Gurupá/ 2006- Universidade Federal do Pará, Núcleo de altos estudos amazônicos. 8- Pedro Alves Vieira e Girolamo Domenico Treccani, Documentar a terra: uma luta constante/2001- STTR e FASE. 9- Arthur Viana, As fortificações na Amazônia, anais da biblioteca e arquivo do Pará, tomo IV, Belém/ 1905, página 227-307. 10- Robson Wander Costa Lopes, Cebs Ribeirinhos: análise do processo de organização das comunidades eclesiais de base em Gurupá/ 2013- UEPA, Mestrado em Ciência da religião. 11- IBGE- estatística municipal e Gurupá/ 2014. 13- Antônio de Pádua de Mesquita dos Santos Brasil, a atuação da organizações não governamentais na governança ambiental da Amazônia: O caso da ONG FASE no município de Gurupá/ 2007- Universidade Católica de Brasília. 14- Pamela Melo Costa Acordo de pesca: desafios de implantação e consolidação em áreas de várzea do município de Gurupá/ 2014- UFPA. 15- Marinaldo Alves dos Santos/ Antônia Fernandes de S. Nogueira, Elementos indígenas em narrativas do quilombo Maria Ribeira/2015-UFPA. 16- Lodewijk Hulsman, Escambo e tabaco; o comercio dos holandeses com índios no delta do rio amazonas (1600-1630), Universiteit Van Amsterdan-2012. 17- Charles Marie de La Condomine, Viagem pelo amazonas (1743-1745), Rio de Janeiro-1992. 18- João Felipe Bettendorff, Wikipédia. 19- Bachelar Eindwerkstuk, Revolução da cabanagem no grão Pará e a influência holandesa- Universiteit Utrecht/2011. 20- Robson W. C. Lopes, O porto é memória: análise da diversidade religiosa no interior da Amazônia-UEPA/2012. 21- F.A Varnhagen, História Geral do Brasil-SP/1962 22- Spix e Martius, Viagens pelo Brasil, Rio/1938. 23- John Hemming, Ouro Vermelho- A conquista dos índios brasileiros, SP/ 2007. 24- José Fernando de Almeida Prado, As bandeiras, IBDC/1987. 25- João Felipe Bettendorf, Cronicas dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, Belém-CENTUR/1990. 26- Cezar Pinto da Silva, Marly Solange C da Cunha, Os Josés na Republica: Alguns apontamentos sobre poder, dominação e tensões sociais no interior do Estado do Pará(1889-1928)/SP- 2001. 27- Cristovão Lins, Jari 70 anos de história. Rio de Janeiro/2001. 28- Antonio Mauricio Dias da Costa, Pesquisas antropológicas urbanas no “paraíso dos naturalistas”/UFPA-2009. 29- Benedito Sanches, Gurupá dos Mariocays. 30- Arthur Cezar Ferreira Reis, A politica de Portugual no vale Amazonico/Belém-1940. 31- Mario da Silva Santos Neto, A representação de uma comunidade amazônica na literatura e na antropologia-2012. 32- Benedicto Monteiro, Historia do Pará-2006. 33- Jorge Henrique Hurley, Noções de História do Brasil. Belém: Instituto Lauro Sodré-1938. 34- FASE- Regularização fundiária e manejo florestal comunitário na amazônia/ 2006. 35- Luiz Geraldo Silva, O Brasil dos holandeses,1997. 36- Julieta de Godoy Ladeira, Recife dos holandeses, 1997. 37- Luiz Fernando Liveira, Caminho de rios-Santana-AP/2011.

VIVER A VIDA É ASSIM!

PESQUISANDO RIO MARARU NA ILHA GRANDE DE GURUPÁ